quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Comer, beber e amar Mendoza.

A Joana Quintana é uma prima que adoro. Escreveu tão bem essas dicas que parecem tiradas de uma reportagem de revista. Pudera, ela é jornalista e, assim como eu, ama planejar e pesquisar cada detalhe de uma viagem. Obrigada Jô por essas dicas maravilhosas de Mendoza! Dá muita vontade de conhecer.Mendoza é uma deliciosa surpresa no oeste da Argentina. Situada no pé da Cordilheira dos Andes, a cidade atrai turistas do mundo todo, ávidos por conhecer de perto a produção dos melhores vinhos do País.

Tudo em Mendoza está relacionado ao vinho, afinal, existem lá mais de 1.000 vinícolas, porém apenas 120 são abertas à visitação. Os atrativos da região, no entanto, não se limitam ao enoturismo. Mendoza oferece restaurantes refinadíssimos - não deixa nada a desejar para Buenos Aires e Punta del Este, no Uruguai -, uma paisagem andina incrível, um clima super gostoso e, de quebra, propicia um passeio pela Cordilheira, com direito à observação do Aconcágua – o pico mais alto da América Latina.

Escolhemos a cidade como roteiro para a comemoração do Dia dos Namorados, num fim de semana prolongado – de quarta a domingo -, não é necessário mais do que isso para conhecer Mendoza. Em junho, a temperatura ainda não é insuportável, faz um frio agradável.

Nossa viagem começou às 4h30min da manhã no aeroporto de Porto Alegre, pois o avião saia ás 6h30min para Buenos Aires – parece mentira, mas não existe vôo direto de POA para Mendoza. Portanto, é preciso chegar em Buenos Aires, trocar de aeroporto e, então, fazer o vôo doméstico para a capital argentina do vinho. Esse trajeto todo pode tomar até 12 horas do seu dia.
Assim, chegamos exaustos no hotel às 16 horas e saímos direto à procura de um lugar que nos foi muito bem indicado para fazer um almo-janta. Graças a Deus o hotel NH fica super bem localizado, numa área central da cidade e a poucas quadras do El 23 Gran Bar (Chile, 874), um bar/restaurante que fica junto a uma Winery – era tudo o que nós queríamos!!! Vinho já!!! A decoração descolada, o astral da casa antiga de esquina, os excelentes vinhos servidos e as delícias do cardápio nos deixaram com a prévia sensação de que a viagem seria permeada de bom gosto.

Já que estávamos no meio da tarde, nosso pedido foi um mix de tapas: saladas, as tradicionais empanadas de carne, um pot-pourri de queijos, pão com presunto de parma e “montaditos de pollo” - torradas com frango desfiado assado. Tudo muito bom!

A caminhada de ida e volta foi um prazer à parte, já que a cidade conta com 52 praças e 3 parques e todas as ruas são cercadas de plátanos. Lindo mesmo! Realmente, o fim de semana dos namorados em Mendoza tinha começado com muito charme e já regado ao bom vinho.

No dia seguinte, com a programação inteiramente definida, nosso guia buscou-nos no hotel para dar início ao roteiro do vinho. Estava um dia ensolarado – Mendoza tem 330 dias de sol por ano –, um friozinho gostoso – cerca de 8 graus -, perfeito para a proposta! As “bodegas” (vinícolas) mendozinas ficam distribuídas entre quatro regiões distantes 15 ou 30 minutos da cidade. Nas primeiras voltas pela região de Lujan de Cuyo – ao sul de Mendoza -, as cores outonais da natureza despontaram e as alamedas de plátanos e de ciprestes amarelos pareciam um sonho.

A primeira bodega que conhecemos foi a Catena Zapata, que tem 70 anos de existência e está sendo administrada pela quarta geração da família.

A visão foi estonteante – em junho todos os vinhedos estão alaranjados -, kilômetros de vinhedos do lado direito e do lado esquerdo e no meio uma estrada que leva a um imponente prédio em forma de pirâmide. A sede da Catena é das mais luxuosas, toda construída com granito, mármore e outros materiais nobres e propicia do alto uma vista impressionante dos vinhedos e da Cordilheira nevada que acompanha tudo lá do fundo.

A visita é curta, dura cerca de 1 hora, e é realizada em pequenos grupos. Depois de passar pelos barris e de aprender um pouco sobre a produção de vinho, o tour pela Catena chega ao fim na sala de degustação. Mas, pra degustar os excelentes vinhos da marca é preciso pagar um valor extra, além do que já se pagou pela visitação.

Nossa próxima parada era pro almoço, seguido de visita à vinícola Zuccardi, a maior de todas, localizada na região de Maypú, a oeste de Mendoza. Um dos vinhos mais conhecidos da marca é o Santa Julia, comercializado no Brasil.

Aqui tivemos outra grande surpresa, o restaurante da Zuccardi é muito gostoso e traduz todo o bom gosto do rústico-chique. Para chegar à casa é preciso atravessar os vinhedos, de carro ou à pé. Nós optamos por caminhar entre as uvas e prova-las em seus diferentes tipos.

Ao chegar no restaurante, uma lareira acesa recebe os clientes, e os ambientes destinados às refeições parecem pensados para que a gente se sinta na fazenda da família. Um charme singular que os argentinos têm em sua raiz. O cardápio era único e especial: empanadas de carne e creme de abóbora na entrada, carnes diversas e legumes feitos na parrilla e de sobremesa uma diferenciada combinação de marmelada e pêra. Claro, muito vinho (branco e tinto) para acompanhar.

Ah! Outro diferencial da família Zuccardi são os azeites produzidos ali, com diferentes aromas e colorações. Nossa!!! Que sabores!!! Todos estão à venda na saída.

Depois deste manjar, faltava conhecer a fábrica. Um guia extremamente atencioso nos deu uma verdadeira aula sobre vinhos, suas diferenças de cores, aromas, texturas, sabores, como degustar, como reconhecer a idade da bebida, etc.. Na Zuccardi a degustação é free, imaginem o quanto nós bebemos?! Muitas compras depois disso tudo, claro, vinhos e azeites...

O dia foi encerrado com chave de ouro em um jantar no Azafrán (Sarmiento, 765), restaurante badaladinho do centro da cidade. Mais charme, mais vinho, óbvio... Aliás, o Azafrán tem uma mesa especial para refeições dentro da adega, mas é necessário reservar, pois a disputa pelo espaço é grande.

Importante: não esqueça nunca de fazer a reserva antecipada, em qualquer lugar que você escolher para jantar, pois a cidade costuma estar repleta de turistas. Basta pedir ao recepcionista do seu hotel, eles conhecem praticamente todos os restaurantes. Meu prato, modéstia a parte, foi o melhor da mesa: filé empanado com espinafre (envolto por aquela massa folhada fininha dos deuses), acompanhado de uma batata maravilhosa (não lembro como era feita). E a sobremesa, um escândalo: trio de doce de leite!

A agenda do terceiro dia incluía o Museu do Vinho, que fica dentro da bodega Ruttini, também chamada de “La Rural”, e a vinícola Luigi Bosca. Conhecer o Museu foi interessante, muito mais pela história da produção da bebida do que pelo local em si. Mas valeu! Afinal, trata-se de uma das mais antigas indústrias de vinho de Mendoza, fundada em 1885. Um passeio que não precisa durar mais de 1 hora.

Já a Luigi Bosca (localizada em Lujan de Cuyo) é um encanto. Fica numa daquelas alamedas cercadas de plátanos (amarelos/alaranjados), e sua sede inteiramente branca lembra uma mansão colonial. A marca é responsável, também, pela fabricação do conhecido Finca La Linda. Ainda era manhã e lá estávamos nós tomando muito vinho: branco, tinto e, claro, espumante. A degustação aqui está dentro do preço da visita, e as atendentes são muito simpáticas. Resultado: saímos felizes e levemente “borachos” em busca de comida, pois o almoço não estava incluído, muito menos planejado.

Uma excelente opção para quem estiver na mesma situação é atravessar a arborizada avenida e verificar se ainda há mesa disponível na bodega Lagarde, que fica quase em frente. Outro almoço delicinha, num ambiente charmoso e, principalmente, aquecido, pois o frio estava grande. Entrada: trio de sopas. Pratos principais: cordeiro com batata doce

ou massa com alho poró (são sempre duas opções). Depois de comer e beber como um rei, você pode ainda lagartear no solzinho do jardim, debaixo dos plátanos.Sem mais compromissos agendados, sobrou um tempinho para conhecer as lojinhas do centro da cidade no final da tarde. Nada que se compare a Buenos Aires, mas existem algumas opções interessantes de compras, com preços acessíveis.

O local escolhido para comemorar a noite dos Namorados foi o MARAVILHOSO restaurante do Francis Mallmann – obrigada, meu Deus, por ter-nos feito parar lá (Belgrano, 1188). Sem dúvida alguma, esta foi a melhor refeição que fizemos em toda a viagem. Não é a toa que ele é O CARA! O restaurante fica a uns 15 minutos da cidade, dentro da vinícola Escorihuela. Ambiente sofisticado, porém descolado. Pé direito altíssimo, cortinas enormes de um lado, tipo de teatro, e uma varanda envidraçada do outro, que permite assistir à arte da parrilla e do forno de barro do lado de fora. Um corte horizontal envidraçado na parede convida o cliente a conhecer a cozinha. E a iluminação, indireta e complementada por velas.

Bom, mas o melhor de tudo, óbvio, é o cardápio. Na entrada, fomos obrigados a pedir as famosas empanadas de carne do Mallmann, apimentadas, uma loucura! Meu prato estava divino: lomo (filé) com ratatouille preparado em forno de barro e finalizado com uma crosta de farelo de pão crocante. Outro pedido interessante da mesa foi o carré de cordeiro. E, pra finalizar, a conta, que é sempre um alívio em Mendoza. Em todos os restaurantes que comemos, o valor para duas pessoas nunca passou de R$ 140,00, incluindo entrada, prato principal, sobremesa e muito vinho.


No último dia, deixamos de lado o roteiro do vinho e nos dedicamos a conhecer a Cordilheira dos Andes. O passeio inicia cedo, pois dura o dia inteiro. A paisagem que nos acompanha do começo ao fim do trajeto é indescritível.

As montanhas vão mudando de cor, conforme a altitude, e aos poucos a neve vai aparecendo nos picos. Quem nunca esteve diante dessa cadeia montanhosa, deve conferir. Mas prepare-se pro frio, afinal você estará a cerca de 2.500 metros de altitude, no meio do nada, ou melhor, em meio ao vento. Depois de horas viajando pela estrada que leva ao Chile, uma parada especial para uma caminhada de 30 minutos rumo ao mirante do pico do Aconcágua - uma emoção à parte, já que ouvimos falar dele desde o colégio, nas aulas de geografia. A sua imponência realmente impressiona! Um aviso: as opções de almoço nesse percurso não são das melhores, portanto, é melhor preparar um lanche reforçado pra viagem. Desavisados, nós quase ficamos numa roubada. Por sorte, encontramos uma lancheria que serviu uma torrada honesta de presunto cru, mas a essa altura já eram mais de quatro da tarde, estávamos morreeeendo de fome.

O jantar de encerramento foi no francês La Bourgogne, filial do tradicional restaurante de Punta del Este no Uruguai. Muito requintado, mas, pro meu gosto, com uma decoração clássica demais. Tem quem goste... Minha escolha do cardápio foi uma Corvina com legumes e gengibre, bem gostosa, e, de sobremesa, uma inesquecível “degustación de dulce de leche”. De novo, vinho.... Para despedir-se da Argentina!!Antes de dormir, uma caminhadinha noturna pela cidade, especificamente, pela praça principal, onde fica o hotel Park Hyatt. Translumbrante! Não deixe de entrar para conhecer.Domingo era o dia do retorno. Dez horas depois, estávamos de volta a Porto Alegre com a certeza de que a Argentina é um excelente destino, Mendoza, especialmente. Charmosa, com preços beeeeeem mais acessíveis do que Buenos Aires e muito mais próxima do que outros disputados destinos internacionais. Ah! E mais um diferencial: os garçons, os recepcionistas e os guias turísticos não têm aquela arrogância de alguns portenhos. É uma daquelas cidades que todo o gaúcho deveria conhecer!

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado,

suas dicas de Mendoza são perfeitas, muito boas mesmo! Você teria o contato do guia que os acompanhou? Foi uma empresa? Obrigado, William

advwilliam@yahoo.com.br

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